Na apresentação do Oscars 2023, Jimmy Kimmel, apresentador da televisão norte americana e host da noite, fez diversas piadas, como de costume. Entretanto uma dentre elas reflete a situação da indústria do cinema nos últimos anos, confira a sátira na íntegra:
Todas as top 10 bilheterias desse ano foram de sequências e franquias. Eles dizem que Hollywood está ficando sem novas ideias. Quero dizer, O pobre Steven Spielberg teve que fazer um filme sobre o Steven Spielberg
Tomados pela nostalgia de ver seus personagens favoritos de livros em filmes. O público corre para as salas de cinema ver remakes, adaptações ou sequências de filmes antigos como Blade Runner 2049.Não foi diferente no Oscar, a noite de premiações teve 2 grandes vencedores Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, levou 7 estatuetas e Nada de Novo no Front levou 4. Dentro da academia muitos filmes originais são mais premiados, mas a presença de remakes como Nada de Novo no Front vem aumentando.
Nos últimos 20 anos, o volume de adaptações, sequências ou filmes de grandes franquias tem se tornado massivo em Hollywood. Filmes e séries baseados em obras de ficção como Sandman, Percy Jackson, Game of Thrones, Duna e Harry Potter atingiram as grandes massas. Alçando os livros e HQs a patamares inimagináveis e alcançando o topo das bilheterias.
Mesmo sendo sucesso, esses filmes não contam novas ideias. Sejam os baseados em quadrinhos, livros ou remakes, vemos obras incríveis que não atendem nossas expectativas de fã. Mesmo assim, a sensação de estar vendo algo completamente novo é quase inexistente.
Como as adaptações se popularizaram e quem as tornou rentáveis
É impossível falarmos dessas adaptações sem abordar o Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei. Nos Oscars de 2003, a produção fez o que ficou conhecido como “King Sweep”, ou em português “A varrida do Rei”. Ao todo o filme ganhou 11 Oscars e 202 prêmios. O seu impacto na indústria foi gigantesco e podemos atribuir a adaptação de muitas franquias devido ao sucesso que foi esse filme.
Ao ver o resultado do filme, na academia e nas bilheterias, as produtoras começaram a procurar outras obras para serem adaptadas tentando repetir o sucesso. Com o passar do tempo, ficou evidente que as tentativas estavam falhando devido a falta de tecnologia necessária. As adaptações precisavam de ferramentas para representar mundos de ficção que não existiam ainda.
Foi apenas em 2009, que o longa Avatar conseguiu juntar a imaginação com tecnologia de ponta. A tecnologia dos efeitos especiais teve grandes avanços para o filme de James Cameron e assim os produtores voltaram a sonhar com suas futuras adaptações. Uma história de ficção original com o impacto das adaptações, Avatar fez um impacto na indústria que até hoje vemos reverberações em outros filmes.
Senhor dos Anéis trouxe o respeito a obras adaptadas de livros, para dentro da Academia. Já Avatar é o responsável por mostrar como criar um blockbuster.
Será que as adaptações são mesmo um problema?
Mesmo o volume de adaptações sendo um problema para a criatividade de histórias novas, as obras em si, não são um problema. Filmes assim são uma ótima forma de propagar para uma nova audiência, por exemplo, Duna de Denis Villeneuve. Baseado na obra literária de Frank Herbert, parte do cânone das obras de ficção científica, mas que estava caindo no esquecimento se não fosse pelo diretor. Além de criar uma representação fidedigna trouxe inovações e visuais incríveis para dentro do cinema. Revivendo os livros do criador que desde então tiveram reimpressões e novas sequências.
Por outro lado temos o novo filme da Sony 65 – A Ameaça Pré-Histórica, estrelado por Adam Driver, que foi um fiasco no seu lançamento. Com notas baixas em diversos lugares como, Rotten Tomatoes (30%), Collider (1/5) e Variety. A obra que tem um roteiro assinado pelas mentes de Um Lugar Silencioso tinha o potencial para ser um blockbuster original muito bem executado, entretanto o efeito foi o contrário. A história rasa e com fortes semelhanças com o filme anterior dos roteiristas não agradou ninguém.
A falta de ideias originais em Hollywood é evidente, mas não é um problema. Assim como a relação do público com o cinema mudou, o conteúdo também tem que mudar, as audiências se expandem e filmes que atendam esse desejo se tornam necessários. Hoje, poucos esperam coisas novas, por outro lado, a vontade de assistir adaptações cinematográficas ou a continuação de um filme nostálgico dos anos 80 toma as salas de cinema.
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo e a volta das ideias originais
Mesmo que adaptações sejam os grandes donos da bilheterias, diretores, roteiristas e produtores não vivem só de contar histórias que já existem. O cinema como qualquer outra arte demanda criatividade e autenticidade, o espírito de criar novas histórias ainda existe em muitos cineastas.
Como os recém vencedores do Oscar de melhor diretor e melhor roteiro original, Daniel Kwan e Daniel Scheinert, criadores de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Mesmo abordando temáticas usadas de Hollywood, como multiverso, trouxeram um filme único e original, levando 7 estatuetas no Oscar 2023. Além disso, o filme superou Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei e se tornou o filme mais premiado do mundo com 336 prêmios.
O filme independente, distribuído pela A24, conta com participações fenomenais de Michelle Yeoh e Ke Huy Quan. Mesmo tendo uma trama familiar comum, o longa extrapola a ficção para dar originalidade a um tema delicado. Além disso, os elementos fictícios únicos e extravagantes fazem que Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo seja uma das obras mais adoradas dos últimos tempos.
São esses pequenos detalhes que nos fazem perceber que as adaptações e as ideias originais podem coexistir dentro do cinema e serem agraciados por todos. Mesmo que as empresas visam o lucro através dos sucessos de bilheterias nostálgicos. Ainda há espaço para novas mentes criativas se estabelecerem dentro do panteão dos cinegrafistas.
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