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Homem com H: a cara e coragem de Ney por ousar ser livre

No dia 1º de maio de 2025, Homem com H chegou com tudo às telas de cinema. Dirigida por Esmir Filho, a cinebiografia de Ney Matogrosso vai muito além de contar a trajetória de um artista: é um mergulho na história da música brasileira, da política e das questões de gênero.

Com Jesuíta Barbosa no papel principal, o longa retrata desde os primeiros anos de Ney, em Bela Vista (MS), até sua consagração nacional com a banda Secos & Molhados, formada ao lado de João Ricardo e Gerson Conrad. Um dos pontos altos da produção é, justamente, a escalação de Jesuíta, que perdeu 12 quilos para atingir a silhueta esbelta do cantor. O ator pernambucano assimila com intensidade o estilo introspectivo de Ney e emula com perfeição suas performances no palco.

Outro destaque no elenco é Rômulo Braga, que interpreta o pai de Ney: um militar linha dura e homofóbico. Em uma das cenas mais impactantes do filme, o personagem diz que não quer um filho “viado”, e Ney responde de bate-pronto: “Eu ainda não sou. Mas quando for, o Brasil inteiro vai saber”.

A cinebiografia acompanha Ney da infância até os 83 anos. Estão ali todas as passagens de sua vida: da infância ao tempo em que morou em Brasília, onde descobriu que tinha um tipo raro de voz; dos primeiros flertes ao período de liberação sexual, que deu o tom nos anos 1970; da perseguição da censura ao carinho com o qual tratou os amigos que perdeu para a Aids.

Mais do que se apresentar, Ney fazia do palco um ato político. Seus shows, frequentemente criticados pela mídia, eram marcados por roupas chamativas, gestos provocativos e danças que denunciavam a hipocrisia da sociedade da época. O filme não falha em trazer essa representação para as telas. Jesuíta Barbosa entrega uma performance intensa e delicada, mostrando a luta do artista pela liberdade de expressão em um período de extrema censura.

Trilha sonora

A trilha sonora é outro ponto alto do filme. Com canções na voz original de Ney, como “Rosa de Hiroshima”, “Sangue Latino”, “O Vira” e “Homem com H”, o longa transforma a música em ferramenta narrativa. As performances são recriadas com precisão absurda, principalmente nas cenas com os Secos & Molhados, que são visualmente impactantes.

Relações amorosas e afetivas

Todos os homens que passam pela vida de Ney, desde seu pai até seus grandes amores, são fundamentais para a construção do personagem no longa. Dois ganham destaque. O primeiro é com Cazuza, interpretado por Jullio Reis. Embora não seja fisicamente parecido com o retratado, Reis entrega o característico dos dois e o encontro entre os dois no filme corrige uma omissão sentida por muitos na cinebiografia Cazuza – O Tempo Não Para (2004).

Outro relacionamento importante foi com Marco de Maria, interpretado por Bruno Montaleone, com quem Ney viveu por 13 anos e que faleceu em decorrência da Aids. O filme trata esse vínculo com delicadeza e respeito, mostrando como o amor foi parte essencial da trajetória pessoal e artística do cantor.

Com um faturamento de R$ 3,6 milhões e 163 mil ingressos vendidos no fim de semana de estreia, “Homem com H” foi amplamente discutido e bem recebido pela crítica e pelo público. Jesuíta Barbosa entrega um Ney de Souza Pereira humano, sensível e revolucionário. Um artista que ousou cantar, atuar, amar e existir em sua plenitude em tempos que queriam calar tudo isso.

Veja o trailer do filme:

Este texto foi escrito por Giovanna Moretti e editado por Julia Pujar.

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