Psicodélica e traumatizante: a experiência de Midsommar

Uma viagem para um país nórdico onde um grupo de pessoas vive isolado da sociedade: o que pode dar errado? Essa é a trama do filme Midsommar (lançado em 2019), do diretor Ari Aster (de ‘Hereditário’), onde Dani (Florence Pugh), uma jovem que acabou de perder todos seus entes próximos viaja junto de seu namorado e amigos para um festival na Suécia. O lugar parece ser bonito, com flores e árvores por todos os lados, pessoas que parecem respeitar a hierarquia da vida, com os mais velhos sempre iniciando o ritual da refeição. Mas aquilo que parecia um lugar lindo e maravilhoso, começa a mudar de aparência quando os nativos começam a se irritar com alguns dos visitantes e passam a tratá-los de forma diferente. Alguns são assassinados de forma brutal, outros torturados. De repente, alguns idosos, que pareciam ser tão respeitados naquele povo, são jogados de cima de uma pedra, em um ritual que parece representar o final do ciclo da vida. 

Quando restam apenas dois personagens – a protagonista e seu namorado – vemos os diferentes tratamentos que cada um recebe. A personagem principal se diverte, participa de rituais com música, uma espécie de dança das cadeiras, e termina o ritual sendo tratada como uma princesa, com uma roupa preenchida por flores. Enquanto seu namorado é levado para os fundos da vila e submetido a uma situação de abuso sexual, posteriormente é colocado dentro de uma pele de urso e queimado vivo.

De início, o filme parece ser sombrio, mas esse clima logo é quebrado com a diversidade de cores presentes na vila e o ambiente que parece de pessoas felizes, em completa harmonia. O espectador que vê o filme sem saber previamente do que se trata é facilmente enganado na primeira hora de filme, e pode acabar surpreendido por todas essas cenas desconfortáveis. Quem conhece o trabalho do diretor, já espera cenas chocantes e explícitas, elementos presentes em peso em ‘Hereditário’. Assisti o filme em um curto intervalo de tempo depois de ver o outro filme do diretor, mas mesmo assim algumas cenas me chocaram, se mantendo fixas em minha mente até hoje. A sequência final de Christian (Jack Reynor), o namorado da protagonista, é memorável graças à sua atuação, passando com maestria o que está sendo sentido pelo personagem – desconfortável com a sucessão de acontecimentos desde o início da viagem. Destaque também para Florence Pugh – esnobada no Oscar daquele ano – que transparece a montanha russa de emoções entre a diversão do ritual e a agonia de todos seus amigos desaparecidos.

Atriz Florence Pugh com coroa de flores, no filme 'Midsommar' (Foto: Reprodução/A24)

É um bom filme, mostra uma grande evolução do diretor desde sua obra anterior, lançada um ano antes. Ari Aster brinca com formas e cores frequentemente, faz paralelos entre as situações contrárias vividas pelos personagens e abusa dos efeitos psicodélicos, lembrando o uso de drogas, referenciado no início do filme e presente em algumas produções do diretor. Mesmo com muitos pontos fortes, todas as cenas desconfortáveis presentes no longa me afastam de assistir o filme por uma segunda vez, mas é impossível negar que o filme oferece uma experiência diferente das obras convencionais.

Midsommar está disponível no Brasil para assinantes do Telecine Play.

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