Na última quinta-feira, dia 30 de março, foi lançado o filme brasileiro “Noites Alienígenas”. O longa de uma hora e meia conta a história de um trio de amigos que se encontram diante do cenário caótico do tráfico e do crime organizado nos limites entre periferia e floresta na cidade de Rio Branco, no Acre. A obra é uma adaptação de um romance de mesmo nome, escrito por Sérgio de Carvalho.
A história começa sem dar introduções complexas para as personagens que serão foco da trama, apresentando cada um no seu cotidiano. Paulo (Adalino) inicia o filme sofrendo com alucinações causadas pelo uso de drogas, se imaginando perseguido por uma cobra; Rivelino (Gabriel Knox) é apresentado pelo seu lado artístico, com exposições que mostram a habilidade do rapaz com música e pintura, para logo em seguida se revelar colega de um traficante da região chamado “Alê” (Chico Diaz) ; e Sandra (Gleici Damasceno) é introduzida como uma jovem que se encontra nos espaços de expressão artística e política da cidade enquanto cuida de seu filho com Paulo.
Por boa parte do filme, a confusão e aflição de cada um dos núcleos é traduzida diretamente para o espectador. Paulo e Sandra vivem em um conflito imprevisível causado pelas complicações da dependência química do personagem, enquanto Rivelino tenta entender seu lugar dentro daquele mundo tendo Alê como seu guia, algo que só adiciona questões à sua situação, pois o traficante também está longe de ser uma figura esclarecida no meio do caos. Em suas cenas, Chico Diaz encarna com entusiasmo um criminoso com um código moral bem estabelecido, mas que acredita em teorias da conspiração e em ET.s.
A imagem do alienígena é evocada desde o início do filme por Alê, sugerindo que em algum momento a trama terá que incluir as figuras clássicas dos OVNIs como um objeto de conflito, levando o público a tentar acompanhar os problemas dos personagens e as diversas menções e referências à discos voadores e seres de outra galáxia.
Contudo, o filme acaba surpreendendo por não utilizar desse recurso.No final da obra, somos apresentados a algo que deveria ser óbvio: o significado da palavra alienígena.
Alienígena nada mais é do que algo de origem estrangeira, e isso é relembrado na segunda metade do filme. Rivelino, Paulo e Sandra sofrem por se encontrarem alheios á realidade que deveria ser comum aos jovens. Os três personagens têm cerca de dezoito anos e são obrigados a lidar com a violência que invade a sua cidade, com os problemas antecipados da vida adulta e com a desconexão da família e origem.
Tudo isso culmina em um final separado para cada um dos núcleos, cada um finalizando os problemas que nascem a cada cena. Vale destacar que essa finalização passa longe do clichê em que os protagonistas são perdoados pelos seus erros e que soluções surgem magicamente; cada uma das situações se encerra pelo choque dos personagens com os seus conflitos, deixando para o cinema um encerramento que retoma as questões exploradas desde o início do filme: o impacto irreversível e cruel dos problemas estruturais do brasil na juventude.
Por mais que apresente uma trama envolvente, o filme perde muito tempo se aprofundando em certas partes da história. Alguns núcleos recebem muita importância no primeiro e segundo ato do filme, mas desaparecem em seu ápice, enquanto outros são rejeitados por boa parte da trama, mas que ganham força no terceiro ato, porém sem terem criado uma conexão entre espectador e personagens.
Dentre as atuações, Adanilo Reis é o que mais se destaca. Compondo o elenco da recente segunda temporada da série da Netflix ‘Cidade Invisível‘, o ator consegue criar diversas camadas para seu personagem, permitindo que o público conheça suas fraquezas e fragilidades. É fácil desprezar Paulo, ao mesmo tempo que uma empatia começa a ser criada aos poucos.
Gabriel Knox compõe uma figura interessante ao dar vida a Rivelino. Mesmo que não consiga criar uma profundidade tão grande quanto a de Paulo, o público se apega rapidamente ao personagem, principalmente por conta de seu ar inocente em meio a um cenário de tanta malícia e violência.
Já Gleici Damasceno não tem a mesma oportunidade de seus colegas de cena. Com menos tempo de tela e com uma personagem resumida a um drama pouco interessante e que orbita os outros dois personagens principais, Sandra é facilmente esquecível, até mesmo pelo filme.
O longa já está disponível nos cinemas brasileiros. Confira o trailer abaixo:
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